25.4.07

Ao redor do mundo (e outras histórias)

Encontraram finalmente um planeta similar à Terra, há apenas 20 anos luz daqui. Ele se encontra numa zona confortável de temperatura, o que propicia a existência de água em estado líquido, exatamente como temos por aqui. A notícia chegou a mim via Stumble.

A internet está pipocando com pessoas animadíssimas, pensando em como é que a humanidade vai chegar até lá, e que (o que já era óbvio) devem existir muitos outros planetas semelhantes pelo espaço a fora. Planos de colonização já devem estar sendo traçados a milhões de pulsos nervosos por segundo na cabeça dos nerds adolescentes (aqueles na faixa entre 13 e 35 anos), enquanto outros rezam a São Einstein pela descoberta de um sistema de acesso ao hiper-espaço e dobras espaciais que tornem possível alcançar o objeto telúrico de forma prática e viável.

Ao mesmo tempo, me chegou uma outra nota no Stumble. Essa era sobre um arquiteto chileno que estava trabalhando num projeto de planejamento urbano na China, na qual a proposta era a de criar uma cidade livre de poluição, que seria modelo de sustentabilidade ecológica e tudo mais. O sujeito parlamentava sobre as dificuldades de se desenvolver um projeto desse tipo, e sobre suas qualidades e experiências para resolver a parada.

Isso me fez pensar que a nova questão (para não usar a palavra paradigma, adorada pelos pensadores arquitetônicos) da arquitetura é exatamente essa da macro-escala, de como as pessoas vão ter de se relacionar com o espaço daqui para frente, com cidades cada vez maiores num mundo cada vez menor. É um problema que vem de mão dada com o novo pacote de "coisas do futuro próximo": China mandando no mundo, crise do aquecimento global, Brasil hexa-campeão e tudo mais.

Como as pessoas vão morar daqui 50 anos? Vai ter espaço e comida para todo mundo? Quanto tempo vai demorar para o ciclo de crescimento demográfico terceiro-mundista entrar em declínio? E o que vai acontecer com o decréscimo demográfico dos países ricos - eles vão sumir do mapa, entrar em extinção?

Com tanta faculdade de arquitetura pipocando sobre as padarias por aí, acho que não vai faltar muito para haver uma cisão no curso, e termos arquitetos urbanos e arquitetos domésticos, ficando o segundo grupo relegado ao projeto de interiores (já que o projeto arquitetônico em si tem sido dominado pelos engenheiros civis cada vez mais). Acho que o segundo caso pode até virar um curso técnico, deixando o ensino "superior" para os que vão pensar no mundo. E olha que com a descoberta desses novos mundos, o mercado pode começar a expandir...

Hoje eu vou conversar com meu possível novo cliente, sobre a casa em que ele pretende construir - espero eu - com a minha ajuda. Se der tudo certo será a minha primeira casa partindo do zero (como já foi dito aqui antes), e estou bastante ansioso pelo resultado.

O duro é que com todas essas revoluções e perturbações na minha cabeça, tudo o que eu mais quero é uma boa partida de Munchkin!

24.4.07

Chute a porta e diga "oi!"

Neste domingo passado tivemos uma sessão extraordinária de RPG lá em casa - repondo a sessão de quarta que não aconteceu por que o mestre foi para São Paulo ver um show para menininhas adolescentes. O jogo em si foi bem bacana, o grupo está bem estruturado e apesar de estar jogando com um personagem NADA voltado para o combate, estou me divertindo à beça com meu halfling ladrão, o Paladin Harfoot.

Mas o ponto alto da noite não foi o jogo de RPG em si - e olha que enfrentamos dois dragões azuis e eu fiz o reconhecimento de uma fortaleza inimiga sozinho, com direito a dividir (uma metade para mim, a outra metade também) os lucros da taverna local - e sim o que seguiu: uma partida de Munchkin!

Eu já havia ouvido falar desse jogo, que ele era muito bom e que ninguém saía ileso dele. É um jogo de cartas em que o objetivo é chegar no décimo nível enfrentando as mais bizarras criaturas, recolhendo tesouros e ajudando os outros a enfrentar desafios... e os outros geralmente são os monstros que estão atrapalhando o seu colega ao lado. É um jogo em que ser melífluo te leva para o próximo nível e que o próprio livro de regras de diz para roubar nas regras de vez em quando, apoiando a máxima de Bartholomeu Simpson de que não é errado enquanto não te pegam.

E o pior de tudo é que vicia... como tudo que é bom e te ocupa a imaginação.

Não vejo a hora de chutar a porta mais uma vez e gritar "uga bugaaaa!"

19.4.07

Trabalho

Ontem fui conversar com um possível cliente.

É interessante como a gente sempre espera que os clientes possuam cornucópias monetárias e peçam por projetos ousados e arrojados, com liberdade para inovações e quem sabe novos paradigmas arquitetônicos.

É mais interessante ainda cair na real e ver como isso tudo é imaturo e fantasioso. Fantasioso não pela impossibilidade de surgir um cliente assim, mas pela falta de consciência do papel do arquiteto num projeto, e na vida do cliente.

Pois bem, eis que me surge a possibilidade de projetar uma casa inteira, do zero, para uma família inteira. O cliente tem algumas restrições de orçamento, e - como todo cliente - tem pressa na concepção do projeto. Fiquei uma hora inteira conversando com ele, sondando o tipo de personalidade, como ele encara o dia-a-dia e tudo mais, e expondo um pouco como eu vejo a relação da arquitetura com o projeto de uma casa e etc. Foi uma hora longa, mas que serviu a seu propósito: estabelecer uma relação de confiança entre o cliente e o profissional ali presente.

Tenho uma semana para entregar uma proposta - tanto de valores quanto de projeto. E aí é que vem a parte importante (e que me levou a escrever esse post): como é difícil criar um projeto do nada!!!

Eu vivo criando projetos na cabeça, inventando detalhamentos interessantes para as mais diversas funções do edifício, mas eis que na hora de enfrentar o fato real, para pessoas com necessidades reais, a coisa toda desmorona e é como se eu nunca tivesse projetado nada antes, e só o que me resta é bom senso e experiência. Não gosto muito dessa coisa de ter estilo pronto e ai só ajustar o carimbo ao que o cliente pede... sou funcionalista assumido, e acho que primeiro vem as relações entre habitantes, habitação e habitat, para depois dar uma cara à coisa toda, seja ela qual for.

E esse cliente tem exatamente essa necessidade: ter um espaço confortável em que um casal com 3 filhas em fases diferentes da vida possam habitar juntos, sem perder a privacidade mas ao mesmo tempo sem perder a intimidade.

Idéias zurram pela minha cabeça numa freqüência absurda agora, acho que vou precisar de mais dias para amadurecer a proposta final. Mas no final de tudo isso, o mais legal vai ser botar a plaquinha com o nome do arquiteto na frente da obra.

Sensação de mundo novo!

18.4.07

We have Irish too!

Ontem, depois da aventura do 805 (que só terminou às 18h, e não no almoço como postado aqui anteriormente), o dia merecia uma comemoração. A Babs veio com a idéia: "Vamos no pub irlandês que abriu ali no centro, você vai comigo pra aula e depois juntamos um povo para ir para lá". Convite irrecusável, aceitei prontamente.

Eis que assim fomos conhecer o Donovans Irish Pub, que abriu no lugar do finado Chicago Pub, que de pub só tinha o nome. Lugar bacana - happy hour com pint double drink, e o fish&chips em promoção no meio da semana - todo pintado de verde e branco como manda a tradição dos pubs irlandeses fora da irlanda (por que duvido que os da irlanda mesmo tenham essas cores), telão tocando DVDs musicais para tiozão (Mccartney e Cyndi Lauper na lista) e mesa de sinuca convidativa.

A atmosfera é bem bacana, mas não sei se o povo de floripa está pronto para esse tipo de experiência, e portanto pretendo aproveitar bem o lugar antes que ele feche daqui a 6 meses. Foi com certeza uma noite bem divertida, com direito a dar uma surra nas amigas da Babs no bilhar, e ainda ganhar uma pint de guinness de brinde depois de paladinar o garçom. Aliás, nesse ponto achei estranho: foi o primeiro pub em que fui que só tem homem atendendo, sem nenhum decote para lhe servir à mesa, como manda a tradição.

Nota: havia sentada na mesa ao lado uma garota toda produzida de pin-up rockabilly, sozinha, esperando um zé mané que apareceu depois vestido de office-boy com camiseta de surfista. A não ser que aquilo fosse encenação de teatro de rua, tenho de constatar e adimitir que mulheres se produzem para para sair com alguém, com intenção clara de causar boa impressão, e que homens tem mesmo de pagar a conta no final, por que carecemos da mesma capacidade.

Enfim, tudo muito bacana, mas como era de se esperar, tudo muito caro também. Evento para cada 15 dias no máximo. Em compensação, na rua Pedro Ivo - aqui no centrão mesmo - abriu o BluesVelvet, barzinho com temática de blues&jazz onde pessoas pensantes vão para afogar seu dia de cidadão comum. Meu lugar favorito da cidade disparado!

Só prestar atenção e pegar a porta da direita, por que a da esquerda é a do lupanar de plantão.

17.4.07

A maldição do 805

Acabei de voltar do apto. 805, onde o vistoriador da Brognoli foi me encontrar para ver se a luminária que não estava funcionando agora estava em ordem. Foi o arco final da novela, e hoje na hora do almoço eu encerro de vez essa história, já por demais estendida.

Eu morei por um ano numa kitinete no centro de floripa, e não era nenhum palacete - não consegui em nenhum momento chamar aquele lugar de lar. O piso era de forração (apesar de no contrato constar como carpete - pra quem não sabe, forração é o mesmo material que usavam para forrar o piso de carros antigamente, parecido com um feltro grosso), a pia da cozinha era um lavatório de banheiro adaptado, o vitrô do banheiro não abria pois havia sido soldada uma grade do outro lado que impedia seu funcionamento.

Não posso negar que era bem iluminado e ventilado, mas isso não compensava o resto do deconforto. E tinha também suas peculiaridades, como os vizinhos estudantes barulhentos (que moravam em 3 num espaço igual ao meu, imagino como se dá a sobrevivência ali), as vizinhas garotas de programa e tudo mais. Isso tudo dava um arzinho bacana de transgressão underground, e era o máximo de glamour que eu conseguia depois de espremer e torcer o pano de chão.

A imobiliária (famosa Brognoli que polui os reclames de rádio da cidade sem parar) foi personagem constante no descontentamento e desconforto do imóvel. Tudo bem, ingênuo fui eu em acreditar na conversa deles, com sua fachada super-corporativa e sorrisos colgate - e isso me vacinou para futuras aventuras - mas isso não os exime de culpa, nem alivia a faltqa de caráter e postura profissional.

Primeiro que quando aluguei, já ciente de alguns (os mais leves, deixo claro) problemas do imóvel, logo perguntei se seria possível fazer reformas simples, como trocar o piso. Na época eu tinha acesso a pisos laminados a preço de fábrica, o que valorizaria o imóvel por um valor realmente baixo. A imobiliária logo se prontificou a entrar em contato com o proprietário e me dar retorno, e digamos que esse tal retorno já está fazendo aniversário - parabéns a ele! (dizem as más linguas que ele foi comprar cigarro, e nunca mais foi visto...).

Para a entrega do imóvel, mais lenga-lenga (fico imaginando qual é o ISO para incompetência). Eles conseguiram demorar uma semana para me enviar via email o modelo de carta de recisão. Depois, enviaram um vistoriador que não tinha competência nem para identificar problemas em casinhas do playmobil para levantar os problemas que supostamente eu teria causado ao precioso imóvel deles - entenda-se como os que estavam ali quando recebi o apartamento.

A novela da vistoria durou 4 dias, mas poderia ter durado menos, se eu tivesse aceitado a terceirização dos reparos. Eles me indicariam uma empresa de confiança que faria tudo, e caso eu aceitasse poderia rescindir o contrato imediatamente. Claro que não aceitei, já que a vistoria tinha levantado problemas como faxina, torneira pingando, lâmpada sem acender. Fiz tudo eu mesmo, e marquei outra vistoria.

Na segunda vistoria (ou seja, mais tempo correndo para eu entregar o imóvel, e portanto mais aluguel proporcional para eu pagar) a faxina não estava de acordo com os "padrões" da empresa, e eles disseram que terceirizariam o serviço e me mandariam a conta. Mais uma vez neguei, e fiz a faxina do apê eu mesmo.

Na terceira vistoria dei azar, e uma lâmpada fluorescente começo a falhar, e o vistoriador (agora já o chefe da vistoria, que eu havia exigido por estar cansado da incompetência e corpo mole do subordinado) disse que arrumando aquilo tudo ficaria "ok" (engraçado que, se dependesse do vistoriador anterior, vários itens ainda estariam pendentes, como "troca das persianas que não estavam funcionando", ou "pintura manchada"). Eu disse que já estava cansado da novela que eles estavam criando, e que eles fizessem um orçamento da troca do reator e para que eu pudesse encerrar o caso logo. O orçamento deles - e depois fiquei imaginando quanto sairiam as outras terceirizações - para a troca de um reator de R$12,00 (que com mão de obra costuma fechar em R$25,00) era de R$90.00! Comecei a dar risada na frente do sujeito, revelei ser arquiteto e saber bem o valor desse tipo de serviço e que aquilo era no mínimo um absurdo.

Moral da história, fiz o reparo eu mesmo. Como eu troquei as lâmpadas também, ficou tudo por vintão. Depois, jogando conversa fora com o porteiro, fiquei sabendo de outras histórias, de gente que já deixou mais que o dobro do aluguel por causa desse tipo de falcatrua.

Mas tudo bem. Hoje no almoço serei um homem livre, e poderei me dedicar ao novo apê, sem estresse de imobiliária. Só continuo me perguntando como é que cabia tanta coisa no 805, já que o espaço do 201 (apê novo, no mesmo prédio mas com mais que o dobro da área) já acabou há tempos.

Retorno oficialmente ao mundo do blog. Olhando minha conta no blogger.com, lembrei que meu primeiro blog foi aqui, em março de 2003 (!), há 4 anos. Retorno às origens eu diria, mas a verdade é que estou com muito tempo livre nas manhãs do escritório.

Espero que se divirtam!